No dia 20 de abril de 2008, um padre chocou o Brasil inteiro ao lançar-se ao ar amarrado apenas em 1000 balões de gás hélio. Seu plano era voar por 20 horas do Paraná até o Mato Grosso do Sul para superar um recorde mundial e assim chamar a atenção do público para o seu projeto social. Neste artigo vamos relembrar A Verdadeira História do Padre do Balão 17 Anos Depois.
Confiante, pois já tinha feito um voo de teste, o padre voou mais uma vez mas o resultado não foi nada bom… Adelir, ficou desaparecido até julho daquele ano (2008) quando somente metade do seu corpo foi encontrado próximo a costa de Maricá, no Rio de Janeiro.
Na data de publicação deste artigo, 20 de abril de 2025, o caso completa seus exatos 17 anos. Vamos relembrar a história de Adelir de Carli, popularmente conhecido como o padre do balão que virou meme mas que na verdade possui uma história bem triste.
Adelir Antonio de Carli
Existem pessoas que não acreditam que haja motivo para a nossa existência, por outro lado, existem pessoas que acreditam no completo oposto e que a nossa existência tem um propósito bem definido e são capazes de tudo para cumprir o que acreditam ser a sua missão de vida. Adelir de Carli, o padre do balão, definitivamente era esse segundo tipo de pessoa.

Adelir Antônio de Carli, foi um personagem que marcou história de forma curiosa e trágica. Nascido em Pelotas, Rio Grande do Sul, no dia 8 de fevereiro de 1967, ele ficou conhecido por uma tentativa ousada que acabou em desastre: um voo com balões de gás hélio que terminou no Oceano Atlântico.
Mas antes desse episódio, a vida do padre já tinha sido um tanto quanto conturbada. Quando ainda era criança, viu seus pais se separarem e acabou se mudando para o Paraguai com a mãe. Aos 15 anos, infelizmente, perdeu a mãe para um câncer na garganta. Sem muitas opções, voltou para o Brasil e se reaproximou do pai, que morava em Eldorado, no Mato Grosso do Sul.
Foi então que tentou algumas profissões. Primeiro, trabalhou como borracheiro com o pai, mas logo descobriu que não queria seguir trabalhando com isso. Depois, foi frentista num posto de gasolina do tio e ainda arrumava tempo para pintar toalhas como uma renda extra.
Com o tempo, ele seguiu um caminho bem diferente: entrou para o seminário em Paranaguá, no Paraná, e se tornou padre. Sua primeira atuação foi na pequena cidade de Ampére, no sudoeste do estado.
Cansou de ler? Confira essa história em vídeo!
Pensando em quem não gosta muito de ler, transformamos essa e outras histórias do site em vídeos. Veja a história completa do Padre do Balão no vídeo abaixo.
O Porto de Paranaguá e o Projeto de Adelir
A cidade de Paranaguá abriga um dos portos mais importantes do país, perdendo apenas para Itajaí e Santos, por conta disso a cidade recebe muitos caminhoneiros. Como Adelir trabalhou como frentista, conhecia muito bem a realidade desses trabalhadores e quando se tornou padre fundou a Pastoral Rodoviária de Paranaguá.
Esse projeto social tinha como objetivo oferecer um local seguro para o descanso dos caminhoneiros que dirigiam muitas horas e muitas vezes não tinham onde se recuperar das viagens com dignidade e segurança. O projeto de Adelir previa a evangelização das pessoas que viajavam pela BR-277 e a criação de um espaço com mais de 100 quartos, destinados ao descanso desses trabalhadores.
A Pastoral Rodoviária foi o motivo para os tão conhecidos voos do padre do balão, que esperava conseguir chamar a atenção do público e assim arrecadar fundos para o projeto.
Em 2006, já como padre na diocese de Paranaguá, ganhou destaque ao denunciar casos graves de violação dos direitos humanos contra pessoas em situação de rua. O caso que Adelir denunciou foi bem sério e vale ser destacado nesse vídeo, vamos ver um pouco mais sobre o esquema criminoso que o “Padre do Balão” ajudou a encerrar.
A denúncia do Padre do Balão

Em sua denúncia ao ministério público, Adelir relata que essas pessoas de Paranaguá estariam sendo abandonadas em outras cidades para que não conseguissem voltar sozinhas, esse seria um meio adotado pelas autoridades para “limpar” as ruas.
Segundo Adelir, as pessoas em situação de rua eram abordadas na madrugada e obrigadas a embarcar em um ônibus que os levava para bem longe.
Com base na denúncia de Adelir, a Polícia Civil abriu uma investigação que constatou que guardas municipais retiravam e torturavam as pessoas em situação de rua da cidade. Depois, as deixavam abandonadas nas periferias das cidades como Curitiba e Registro, em São Paulo.
O caso resultou em cinco prisões: o secretário municipal de segurança e quatro guardas municipais de Paranaguá.
A inspiração do “Padre do Balão”
O que pouca gente sabe é que Adelir não tirou essa ideia do nada, ela teve uma inspiração bem forte no que o norte-americano Larry Walter fez em 2 de julho de 1982.
Larry sonhava em ser piloto de avião desde criança, mas esse sonho não foi possível de ser realizado pois Walter possuía a visão limitada, deficiência que tornava impossível a profissão de piloto.
Com uma cadeira de praia, 45 balões meteorológicos cheios de gás hélio, Larry partiu de San Pedro alcançando uma altitude de mais de 4.600 metros, levando somente um rádio, uma arma de chumbo e um sanduíche.
O plano de Walter era atirar nos balões para diminuir a altitude, porém, após atirar em 2 balões, Larry derrubou a arma e seguiu sem ter como controlar o seu voo. Eventualmente os balões se prenderam à rede elétrica causando um apagão de 20 minutos em Long Beach.

Larry conseguiu pousar em segurança mas foi preso assim que tocou o chão, pagou uma multa de $1.500 dólares e entrou para a história. A cadeira que ele usou, atualmente está em exposição no National Air and Space Museum em Washington, D.C.
Apesar de parecer que esse caso teve um final feliz, em 6 de outubro de 1993, aos 44 anos Larry comete suicídio.
O primeiro voo do Padre dos Balões
O que muitos não sabem, e eu estou incluído nessa, é que o padre já tinha feito um voo como aquele antes. Adelir fez um voo de teste usando 600 balões e foi de Ampére, no Paraná, até San Antonio, na Argentina.
Nessa primeira viagem, que foi como um teste para fazer aquela que bateria o recorde de Larry Walter, foram percorridos 25 quilômetros a uma altitude de 5.300 metros acima do nível do mar.
Além disso, antes de tudo Adelir já possuía um histórico de aventureiro. Ele afirmava ter experiência com esportes como paraquedismo, parapente e mergulho. Porém, logo depois do evento que tirou sua vida, um instrutor que deu aula para o padre disse que ele foi convidado a se retirar do curso pois a sua frequência era muito baixa.
Em entrevista, o instrutor disse que a frequência era muito importante naquele tipo de curso pois eram ensinadas coisas essenciais para a prática segura do esporte.
O dia do voo final
Era uma manhã chuvosa em Paranaguá, no Paraná, mas centenas de fieis, curiosos e jornalistas se reuniram para acompanhar a decolagem do padre Adelir. Antes de partir, sob um céu nublado, o sacerdote celebrou uma missa, pedindo proteção para sua jornada.
Mesmo com o tempo ruim e várias pessoas o aconselhando a não decolar naquele dia, Adelir insistiu que estava tudo bem e que iria voar.
Às 13 horas, preso a uma cadeira suspensa por mil balões de gás hélio, ele decolou rumo a Dourados, em Mato Grosso do Sul, em uma viagem que deveria durar 20 horas para bater o recorde que na época era de 19 horas.
O padre levou poucas coisas com ele no voo, um paraquedas, roupas térmicas, um aparelho gps, um telefone por satélite, coletes salva-vidas e suprimentos. Na teoria ele estava bem preparado.
Mas, apenas 20 minutos após a decolagem, algo surpreendeu a todos. Adelir atingiu uma altitude assustadora: 5.800 metros, quase o dobro da altura que estava em seus planos. Em seu último contato, sua voz soava calma, mas o frio extremo já era evidente:
“Graças a Deus, estou bem de saúde, consciência tranquila… Tá muito frio aqui em cima, mas tá tudo bem.”
Essas foram algumas de suas últimas palavras. O que começou como um voo histórico estava prestes a se transformar em um mistério que deixaria seus amigos e fieis apreensivos por meses.
No dia 20 de abril, o último contato do padre com a Polícia Militar aconteceu durante a noite, às 21h, quando ele estava a cerca de 25 quilômetros do município de São Francisco do Sul, em Santa Catarina. As investigações na época apontaram que o mau tempo o teria levado em direção ao mar.
As buscas por Adelir de Carli
Por meses, padre Adelir permaneceu desaparecido, enquanto uma das maiores operações de busca do litoral brasileiro se mobilizou para encontrá-lo. A Marinha, a Aeronáutica e um grupo de bombeiros voluntários dedicaram semanas vasculhando o mar de Santa Catarina, sem sucesso.
Até que, em 4 de julho de 2008, quase 3 meses depois de desaparecer, um barco rebocador que prestava serviços à Petrobras encontrou o que todos queriam, mas temiam encontrar: os restos mortais de um homem foram encontrados flutuando próximo à costa de Maricá, no Rio de Janeiro. Para confirmar a identidade, foi realizado um exame de DNA no Instituto de Pesquisa Genética Forense, comparando o material com uma amostra do irmão de Adelir, Moacir de Carli. O resultado confirmou o pior: eram mesmo os restos do padre.
Outra coisa que eu só descobri fazendo este vídeo, e que deixou a história com um tom bem mais sinistro é que, encontraram o corpo do padre, mas só metade dele…somente a metade inferior do corpo foi encontrada, a suspeita é que a outra metade pode ter sido comida por animais marinhos.
Seu corpo foi levado para Paranaguá, onde fieis emocionados o receberam com uma salva de palmas em vigília na Paróquia São Cristóvão. Uma missa solene foi celebrada em sua homenagem antes do sepultamento final em sua cidade natal, Ampére, encerrando uma das histórias mais trágicas e misteriosas da aviação brasileira.
A cobertura da mídia
Desde o começo de toda a história da aventura do padre Adelir, a mídia sempre esteve presente, os canais mais famosos de televisão e jornais daquela época logo se interessaram pelo caso e fizeram uma cobertura bem de perto.
Até mesmo a decolagem do padre dos balões foi televisionada ao vivo pelos principais meios da época. No entanto, essa cobertura apresentou algumas falhas.
O que no começo era uma super ideia, que seria realizada por um padre totalmente especializado no esporte, com os melhores equipamento e o melhor plano possível se tornou uma ideia arriscada, feita às pressas por alguém sem experiência e com equipamentos insuficientes assim que o padre perdeu contato com o pessoal em solo e desapareceu.
A mesma mídia que incentivava o padre, mostrando sua história e sua ideia para o público e ganhando audiência com isso, apareceu depois da tragédia para apontar as falhas no plano do padre e para mostrar como aquela era uma péssima ideia.
A televisão naquela época apresentou os áudios do padre com sua equipe em público, transmitiu a decolagem ao vivo e entrevistou instrutores do padre. A mídia, ao longo do tempo, foi apresentando cada vez mais “erros” e problemas na aventura do padre do balão, descredibilizando-o cada vez mais. Essa atitude foi completamente diferente da que tiveram no começo dessa história toda.
A mídia teve culpa na tragédia?
Agora como opinião pessoal: ao meu ver, toda a atenção que a mídia deu a história deslumbrou o padre que vendo toda a comoção que causou. Adelir viu uma grande chance de atingir um público maior e não poderia desistir de forma alguma.
Com toda certeza esse foi um fator muito importante para que o padre não desistisse de voar naquele dia, com aquele tempo ruim, pois caso desistisse ele perderia, de alguma forma, todo o apoio que a mídia havia conseguido para ele e sua causa até aquele momento.
Lembrando que essa última parte foi apenas a minha opinião, comenta aí abaixo se você concorda comigo ou não. Nós podemos começar um debate sobre isso, mas por favor, com muito respeito e paciência.
Prêmio Darwin para Mortes “Estúpidas”
Eu acho que até aqui já deu pra perceber que essa história toda que é tida como piada, não é tão engraçada assim. A história do padre do balão é na verdade uma série de erros cometidos por uma pessoa que pensava em fazer uma boa ação para a sua comunidade.
Adelir tentou chamar a atenção das pessoas para uma causa nobre e o que aconteceu com ele foi uma fatalidade, mas isso não impediu que as pessoas tirassem sarro de como a morte do padre aconteceu.

O Prêmio Darwin é uma premiação irônica atribuída a pessoas que morreram de formas consideradas “ridículas”. Em 2008, Adelir, já conhecido como o “padre do balão” , recebeu o Prêmio Darwin.
Mesmo isso sendo uma piada com a morte do padre, o site do prêmio publicou posteriormente a seguinte nota: “O padre Adelir estava corajosamente arrecadando dinheiro para uma causa nobre. O Darwin Awards saúda esses heroicos pioneiros em voos de balão!”
Adelir também é citado de forma jocosa na canção “Balada Louca”, da dupla Munhoz & Mariano, com o verso “DJ mais louco que o padre do balão”.
O legado do Padre do Balão
O maior sonho de Adelir não era voar. Seu verdadeiro propósito estava em terra firme: um abrigo para caminhoneiros no Paraná. Enquanto esteve vivo, o padre dedicou-se incansavelmente a esse projeto, mobilizando a paróquia para investir cerca de R$ 800 mil na construção de um refúgio seguro para motoristas e suas famílias. Em um terreno de 62 mil metros quadrados, ao lado do movimentado pátio de triagem do Porto de Paranaguá, ele ergueu não apenas paredes, mas uma esperança de dias melhores para aqueles que cruzavam as estradas do Brasil.
Mas hoje, esse sonho está em silêncio. A Pastoral Rodoviária fechou suas portas pouco tempo depois da morte do padre, e o projeto que prometia segurança e dignidade aos caminhoneiros não resistiu.
Durante as buscas pelo padre do balão, Denise, ex-tesoureira da pastoral, defendeu a importância do abrigo e tentou mantê-lo ativo mas, infelizmente, não deu certo.
Carta psicografada do Padre do Balão
Em 2025, o médium Ricardo Sanches de Andrade alegou ter recebido a psicografia de Adelir. Na carta ele descreve como tudo aconteceu, o padre diz que tentou entrar em contato pelo telefone mas como não sabia operar, não conseguiu.
Essa carta também descreve os últimos momentos do padre ao cair na água em que ele tenta se salvar mas, como sabemos, acaba não conseguindo.
Segundo a carta Adelir teria dito que tentou contato: “Tentei utilizar o aparelho comunicador para pedir ajuda, mas minha inexperiência me impediu de fazer isso adequadamente”.
De acordo com o medium, o Padre do Balão também descreveu como a tragédia teria se desenrolado: “Tudo estava indo terrivelmente errado. Os balões começaram a esvaziar e estourar. Eu estava gradualmente caindo, e o cenário tranquilo que imaginei tornou-se caótico. A água do mar me aguardava abaixo. Em meu coração, estava repleto de temor”.
Na carta, Adelir supostamente descreve sua morte e o que aconteceu com seu corpo após seu desencarne: “Afundei nas águas do oceano, lutando para sobreviver… me cansava, até me afogar”. Depois disso, Adelir teria descrito o destino do seu corpo: “Desencarnei. Parte do meu corpo foi consumida por tubarões e outros peixes marinhos”.
Apesar das descrições terríveis que Adelir supostamente faz em sua carta, ele também diz que no final de tudo encontrou a paz e seguiu em frente: “Apesar dos momentos finais desafiadores, encontrei a paz em saber que minha intenção era nobre, que minha dedicação à caridade ainda poderia surtir algum resultado em meio ao labirinto da existência humana”.
O Padre do Balão
O fato é que Adelir de Carli, ou como ficou conhecido, o “padre dos balões” foi um homem que não media esforços para lutar pelo que acreditava, seja pelas histórias dos voos ou pela sua corajosa denúncia que derrubou todo um esquema criminoso.
Infelizmente, sua morte ainda é lembrada em tom de piada, e a maioria das pessoas, assim como eu, não sabem o quanto ela foi triste e bizarra. Somente metade de seu corpo foi encontrado no mar, muito distante de onde ele partiu.

Eu fico imaginando o quão desesperador foi toda a situação logo que ele não conseguiu mais contato com sua equipe em terra. Quão impotente frente a morte o padre do balão ficou e quão angustiante deve ter sido se afogar no mar…
Pensar nisso faz perder toda a graça que as piadas com o padre do balão podem ter tido. Para falar a verdade, sempre me pareceu muito “idiota” (por falta de palavra melhor) o jeito como o padre Adelir morreu, mas confeço que nunca me interessei em saber o porquê, por qual motivo ele tinha se sujeitado a isso? Atenção? Eu achava que sim, mas claramente descobrimos que não.
Adelir ficou conhecido por ter morrido de uma forma estúpida, mas eu gostaria que ele fosse lembrado como o padre que fez o que um cristão faz, ou que deveria fazer. Se sacrificou, mesmo que de forma não intencional por uma causa nobre, para ajudar seus iguais.
Esta foi a nossa viagem no tempo para relembrar um dos acidentes mais memoráveis do Brasil, eu espero que você tenha gostado da forma que escolhi contar essa história. Você não precisa ir embora ainda, nosso site possui muitos outros artigos interessantes como este.
Como você sabe, nós também temos um canal no Youtube em que a maioria dessas história vira vídeo, não esqueça de passar por lá e conhecer essa outra parte do nosso trabalho.
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