Com a morte recente do Papa Francisco, após o velório e enterro não se fala em outra coisa senão o Conclave, o evento que elegerá o novo Papa.
Poucos eventos no mundo carregam tanto mistério e simbolismo quanto a escolha de um novo pontífice. Por trás dos muros do Vaticano, quando a cadeira de São Pedro fica vazia, inicia-se um dos processos mais antigos e secretos ainda em prática nos dias de hoje.
A palavra “conclave” vem do latim cum clave, que significa “com chave”. A tradição surgiu no século XIII, quando os cidadãos da cidade de Viterbo, cansados da demora na eleição de um novo papa, trancaram os cardeais até que chegassem a um consenso. Desde então, essa prática virou regra oficial.
Essa eleição chegou até a ganhar um filme dedicado a ela recentemente, o filme chamado “Conclave” foi premiado com o Globo de Ouro de melhor roteiro.
Neste você vai descobrir como funciona esse processo que elege o novo Papa da Igreja católica e também uma lista dos cardeais considerados como favoritos para assumir o cargo, vamos lá!
O que é o Conclave?
Essa situação começa com a chamada “sede vacante”, que acontece quando o papa morre ou renuncia. A renúncia do Papa é algo extremamente raro, tanto que quando Bento XVI renunciou, ele se tornou o primeiro Papa a abdicar do cargo em 600 anos.
Com a sede vacante estabelecida, o cardeal Camerlengo assume parte das funções do Papa de forma temporária, o restante do poder do Papa é assumido pelo colégio de cardeais, durante este período nenhum membro do clero pode exercer o poder pleno do pontífice.
O Camerlengo é também o responsável por confirmar a morte do Papa, conforme expliquei no artigo em que descobrimos os rituais fúnebres do Vaticano.
Cansou de ler? Assista nosso vídeo exclusivo sobre o tema:
Convocação dos cardeais para votação
Enquanto o mundo aguarda, os cardeais com menos de 80 anos são convocados ao Vaticano. Os cardeais são as únicas pessoas que têm direito a votar no novo Papa. O número de eleitores pode variar, mas nunca chegou a ultrapassar 120 cardeais, porém o conclave de 2025 contará com 133 cardeais, um recorde até agora.

Durante o período do Conclave, todos os participantes ficam hospedados na Casa Santa Marta, dentro do próprio Vaticano. A partir deste momento os cardeais ficam totalmente isolados do mundo, eles não podem ter acesso a celulares, internet ou qualquer forma de comunicação exterior. O sigilo é absoluto.
O Juramento de silêncio no Conclave
A cerimônia de abertura do conclave é bem tradicional. Após uma missa, os cardeais fazem um juramento de silêncio, prometendo não revelar absolutamente nada do que ocorrerá ali dentro. A quebra desse voto pode resultar em excomunhão imediata, a excomunhão é quando uma pessoa é praticamente expulsa da igreja, isso para um cardeal seria mais do que terrível.
Assim a Capela Sistina, famosa por suas obras pintadas por Michelangelo, se transforma no cenário de uma das eleições mais esperadas. É lá dentro que o futuro da maior religião cristã do mundo será decidido.
Como é feita a votação para o novo Papa?
A votação ocorre de forma escrita. Cada cardeal anota o nome de seu escolhido em uma cédula, dobra o papel e o deposita em uma urna no altar da Capela Sistina. Os votos são contados em voz alta.
Para que um candidato seja eleito papa, é necessário obter dois terços dos votos. Essa regra evita decisões por maioria simples, evitando que haja intrigas entre os cardeais ou muitos deles contra o Papa que seria eleito.
Porém, a fumaça também anuncia quando a votação não atingiu a maioria necessária. Os votos são queimados e devido a produtos químicos específicos adicionados na queima, a fumaça que se vê na praça de São Pedro é preta e não branca, assim sinalizando que o Conclave ainda não conseguiu escolher um novo Papa.

Quando isso acontece uma nova votação é feita e repetida até que se consiga um nome com a maioria de dois terços dos votantes. Mas também há todo um processo para essas repetições de votação.
Segundo o Vaticano, se nenhum cardeal receber o número de votos necessário para ser eleito papa, serão feitas até quatro votações por dia nos dias seguintes, duas pela manhã e duas à tarde.
O processo pode se repetir até o terceiro dia de conclave. Se ao final deste dia ainda não houver uma definição, o quarto dia será reservado para uma pausa para oração e discussão.
Após isso, o processo pode continuar por mais sete rodadas de votação, assim como no início do Conclave. Depois disso, há outra pausa para orações e, na sequência, as votações são retomadas.
Embora o processo tenha que ser repetido até escolherem um novo Papa, dos últimos 11 conclaves realizados, nenhum durou mais do que quatro dias. Será que esse vai quebrar esse recorde também?
A fumaça misteriosa do Vaticano

Todos nós sabemos que a fumaça é usada para anunciar as decisões tomadas dentro do conclave para o mundo exterior. Um fato interessante sobre ela é que, em 2005, durante o conclave que elegeu Bento XVI, a fumaça causou a maior confusão.
Isso aconteceu pois quando os cardeais escolheram o novo Papa a fumaça que foi produzida na chaminé, não saiu branca, ela saiu cinza e ninguém sabia se tinha um novo Papa ou não até que ele foi anunciado pelo cardeal protodiácono. Desde que o evento da fumaça cinza aconteceu, o Vaticano passou a usar uma fórmula nova para a coloração da fumaça para que isso nunca mais aconteça e ela seja sempre visivelmente branca.
Como é feita a escolha do nome do Papa?
Quando a votação finalmente atinge a maioria de dois terços dos votantes e um novo Papa é escolhido, ele ainda precisa aceitar o cargo, caso aceite ele é levado para uma pequena sala ao lado da Capela Sistina. Caso não aceite, uma nova votação é feita.
Essa sala tem um nome poético e bem pesado: a Sala das Lágrimas. Ali, o novo Papa veste pela primeira vez a batina branca. Em seguida ele escolhe o nome que usará como Papa.
A tradição da escolha de um novo nome começou no século VI. O nome escolhido costuma homenagear um santo, um Papa anterior ou refletir uma mensagem que o novo pontífice deseja passar para o mundo.
Há um fato interessante sobre a escolha de nomes. Por respeito a São Pedro, discípulo de Jesus e considerado o primeiro Papa da Igreja, nunca houve um Papa Pedro II.
Habemus Papam: Temos um Papa!
Com o nome escolhido e já vestido com as vestes papais, o novo pontífice é conduzido até a famosa varanda da Basílica de São Pedro. Milhares de pessoas se aglomeram na praça, enquanto o cardeal protodiácono surge e anuncia:
Habemus Papam! — Temos um papa em latim.
O nome do novo pontífice é revelado e, poucos segundos depois, ele aparece ao público pela primeira vez e concede sua bênção.
Quem pode ser eleito para ser Papa?
Um detalhe que poucas pessoas sabem: tecnicamente, qualquer homem batizado pode ser eleito papa. Não é necessário ser padre, nem cardeal. A única exigência é ser homem, católico e aceitar a missão. Na prática, isso é improvável, mas não impossível.
Na história, já houve ao menos um caso: em 1378, Bartolomeu Prignano foi eleito papa sem ser cardeal, assumindo o nome de Urbano VI. Bartolomeu não era cardeal mas era arcebispo da igreja, não há nenhum caso registrado de um Papa que não tenha sido um membro do clero.
O conclave é um dos poucos processos globais que permanece totalmente analógico e fechado, mesmo na era digital. Tudo acontece em silêncio, oração e absoluto segredo.
Enquanto o mundo observa pela televisão, o futuro espiritual de mais de um bilhão de católicos é decidido dentro da Capela Sistina. E tudo começa com uma fumaça branca subindo lentamente sobre o céu de Roma.
Os favoritos para ser o novo Papa
Com a aproximação do Conclave e até mesmo antes da morte do Papa Francisco, os possíveis candidatos a próximo Papa já eram comentados por aí. Fiz uma pesquisa rápida na internet para descobrir quem são os favoritos, se é que podemos chamar assim, para se tornar o novo pontífice.
Cardeal Robert Sarah

Robert Sarah, de 79 anos, natural da Guiné, é conhecido por seu pensamento ortodoxo e conservador.
Como Prefeito Emérito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Sarah ganhou destaque internacional ao se posicionar contra as reformas do Papa Francisco, sendo visto como um símbolo “anti-woke” e favorito da ala mais conservadora da Igreja.
Cardeal Pietro Parolin

Pietro Parolin, italiano de 70 anos e atual secretário de Estado do Vaticano, construiu sua carreira dentro da diplomacia da Igreja, sendo nomeado ao cargo por Francisco em 2013.
Visto como o favorito para manter a continuidade do atual pontificado, uma análise da BFMTV baseada em inteligência artificial apontou que ele tem 27,6% de chance de se tornar papa. Apesar de seu prestígio, relatos antigos indicam que Parolin manteve relações amigáveis com maçons, embora não se saiba se esses laços ainda existem.
Cardeal Luis Tagle

Luis Tagle, filipino de 67 anos, é considerado um dos líderes mais progressistas da Igreja, ocupando atualmente o cargo de Pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização.
Conhecido como o “Francisco asiático”, ele compartilha ideias semelhantes às do Papa Francisco, defendendo a ecologia, um olhar acolhedor a fieis LGBTQIA+ e a comunhão de divorciados, analisada caso a caso. Apesar de suas posições liberais em vários temas, Tagle é firmemente contrário ao aborto e à contracepção, mantendo posições tradicionais nesses pontos.
Cardeal Péter Erdó

Péter Erdő, de 72 anos, é arcebispo de Budapeste desde 2003 e foi nomeado por João Paulo II. Com posições litúrgicas conservadoras, ele se opõe à comunhão de divorciados, à bênção de casais do mesmo sexo e ao uso de anticoncepcionais, além de rejeitar o universalismo.
Embora veja a imigração como um direito, alerta para os riscos à estabilidade política. Intelectual respeitado, Erdő é fluente em seis idiomas, foi reitor e pesquisador universitário, e já publicou mais de 250 artigos e 25 livros.
Cardeal Malcolm Ranjith

Malcolm Ranjith, de 77 anos, é arcebispo de Colombo e o único cardeal do Sri Lanka, combinando experiência pastoral e de governança. Conservador, já chamou a homossexualidade de “defeito” e defende a pena de morte em alguns casos, além de criticar reformas litúrgicas recentes.
Embora compartilhasse com Francisco a preocupação com os pobres, divergiam em vários temas. Ranjith é ainda um poliglota, fluente em dez línguas.
Cardeal Anders Arborelius

Anders Arborelius, de 75 anos, é arcebispo de Estocolmo desde 1998 e o católico mais influente da Suécia. Convertido do luteranismo aos 20 anos, foi elogiado por Papa Francisco como exemplo de diálogo e positividade.
Arborelius mantém posições tradicionais, sendo contra a ordenação de mulheres como diaconisas, a flexibilização do celibato sacerdotal e o uso de contraceptivos, mas defende o engajamento da Igreja em temas como mudanças climáticas e democratização.
Cardeal Matteo Zuppi

Matteo Zuppi, de 69 anos, é arcebispo de Bologna e chefe da Comissão Episcopal Italiana, pertencendo à ala progressista do Vaticano. Nomeado cardeal por Francisco, Zuppi defende reformas na Igreja, acolhimento de pessoas LGBTQIA+, democratização interna e maior abertura ao diálogo inter-religioso.
Ele apoia a comunhão de divorciados e valoriza ações de misericórdia e solidariedade. Próximo de figuras como o maçom Gioele Magaldi, Zuppi é visto como um promotor da fraternidade e da inclusão dentro da Igreja.
Cardeal Pierbattista Pizzaballa

Pierbattista Pizzaballa, de 60 anos, é patriarca de Jerusalém e um dos papáveis mais jovens, nomeado cardeal por Francisco há apenas dois anos. Conhecido por sua postura equilibrada, ele se ofereceu como refém ao Hamas para salvar crianças israelenses e defende a paz na região, criticando tanto os ataques do Hamas quanto a ocupação israelense em Gaza.
Conservador moderado, Pizzaballa prega uma Igreja aberta, mas sem perder sua identidade, mantendo-se discreto em temas polêmicos internos.
Cardeal Fridolin Ambongo Besungu

Fridolin Ambongo Besungu, de 65 anos, arcebispo de Kinshasa e membro do Conselho de Cardeais, é conhecido por suas posições políticas e sua defesa da justiça social. Crítico do governo da República Democrática do Congo, ele também se destaca por seu anticolonialismo e preocupações com imigração.
Embora tenha visões conservadoras sobre questões como a bênção a casais homossexuais e o celibato, Besungu defende maior democratização da Igreja e a atuação da instituição em questões ambientais. Ele se opôs abertamente a medidas do Papa Francisco, como a bênção de casais do mesmo sexo, considerando-as incompatíveis com a cultura africana.
Cardeal Willem Eijk

O cardeal Willem Eijk, de 71 anos, arcebispo de Utrecht, é conhecido por suas visões ortodoxas e conservadoras. Nomeado cardeal por Bento XVI em 2012, Eijk se opõe à presença de meninas coroinhas, ao celibato opcional, ao uso de anticoncepcionais e à bênção de casais homossexuais, considerando relações LGBTQIA+ contrárias à ordem divina.
Defende que o casamento é indissolúvel, rejeitando a comunhão para divorciados que se casam novamente. Eijk também causou controvérsia ao remover uma ajudante transgênero de uma paróquia, gerando protestos dentro da Igreja.
Cardeal Charles Bo

Charles Bo, arcebispo de Yangon, tem 76 anos e foi nomeado cardeal por Papa Francisco em 2015. Originário de uma família pobre no Mianmar, Bo tem uma carreira significativa no Vaticano, participando de várias congregações e sendo delegado do Sínodo dos Bispos.
Embora tenha uma posição ortodoxa, ele defende a democratização da Igreja, a preocupação com o meio ambiente e a comunhão para divorciados, adotando algumas posturas consideradas liberais. Além disso, Bo é fã de esportes, especialmente futebol e basquete, praticados com outros religiosos.
Cardeal Jean-Marc Aveline

O cardeal Jean-Marc Aveline, de 66 anos, é arcebispo de Marselha e nasceu em uma família francesa na Argélia, país do qual teve que emigrar em 1962, após sua independência. Essa experiência de exílio o tornou mais consciente das questões dos imigrantes. Aveline também é diretor espiritual da comunidade Emmanuel, onde ocorreram relatos de abusos ao longo do tempo, o que gerou controvérsias em sua trajetória.
A verdade é que esse assunto está sendo tão comentado que até casas de apostas abriram ods para as pessoas apostarem em qual cardeal será o novo Papa, olha só a que ponto chegou.
Esparamos que você tenha sanado todas as suas dúvidas sobre esse processo tão misterioso. Você poder ler mais artigos curiosos como este em nosso blog.
Não se esqueça de conhecer o nosso canal no YouTube para assistir vídeos tão bizarros quanto nossos artigos!